O engenheiro
Henrique Luiz de Bellegarde Niemeyer percorreu esta trilha e deu, em 1837,
informações preciosas sobre seu estado de conservação e as obras necessárias a
serem feitas para melhorar seu trânsito. Desde tempos muito antigos, esta
estrada é usada para a circulação entre litoral e interior, do Rio de Janeiro,
de Campos, de Friburgo para a zona de Minas Gerais. Em meados do século XIX,
Hermann Burmeister, outro naturalista alemão, veio do Rio de Janeiro em direção
a Mariana, passando por Friburgo e subindo a estrada que levava ao interior
pela margem esquerda do Rio Pomba. Esta viagem merecerá um artigo futuro.
Embora muito
adulterada nos dois séculos após a excursão científica de Maximiliano, a
estrada entre São Fidélis e Campos ainda conserva seus encantos, reconhecidos
pelos que passam por ela em tempos de cheias e estiagens. Houve desmatamento,
erosão, assoreamento e poluição. Aproveitando a trilha, primeiro construiu-se a
ferrovia. Mais tarde, a estrada foi asfaltada e se transformou na RJ 158.
Quem sai de
São Fidélis rumo a Campos já encontra na cidade monumentos naturais e culturais
dignos de apreciação. Chamam a atenção pilares da antiga ponte, a ponte
ferroviária, a antiga ponte rodoviária, a Igreja Matriz, o solar do Barão de
Vila Flor, o Paço Municipal, o prédio da Vila Libanesa e o Mercado Municipal.
Tomando a
rodovia, que acompanha a margem direita do Rio Paraíba do Sul, do início ao
fim, o viajante encontra belas paisagens naturais que convidam à contemplação.
Nesse trecho final, o Paraíba do Sul corre ainda na zona serrana até a
localidade de Itereré. Daí em diante, seu curso se bifurca em quatro braços,
formando um delta. Dos quatro, apenas dois restaram: o canal principal do rio,
que desemboca no Oceano Atlântico, em Atafona, e os canais que correm para a
Lagoa Feia.
Ao longo de
RJ-158, o viajante corta os Rios Pedra d’Água e do Colégio, além de diminutos
ecossistemas aquáticos.
No âmbito da
zona serrana, outras belezas cênicas surpreendem o viajante, como a Serra do
Sapateiro e o Morro Peito de Moça. Já na planície, estão a bela Fazenda da
Pedra, a sede da desativada Usina Santa Cruz e alguns prédios mais.
Com uma
ferrovia e uma rodovia cortando tão belas paisagens, o trecho do Rio Paraíba do
Sul entre São Fidélis e Campos bem merece receber proteção especial. Esta
proteção não seria especificamente para a RJ-158, mas para o conjunto do rio,
da ferrovia e da rodovia. A figura do Parque não é a melhor porque ele exige a
proteção integral de certas partes. Nesse conjunto, parece não haver mais
trechos inteiramente preservados, pois o desmatamento foi inclemente. A ele,
seguiu-se forte erosão e assoreamento. Além do mais, a poluição assola o rio
quase da nascente à foz. Embora um pequeno desnível em São Fidélis e outros
acidentes geográficos aerem as águas, nesse trecho, elas estão inseridas na
classe 2, numa escala que vai de 1 a 4.
Pelas
características das três vias (fluvial, ferroviária e rodoviária), parece que
sua proteção deveria ser feita por alguma figura da categoria de Unidades de
Uso Sustentável, e não pela categoria de Unidades de Proteção Integral. A Área
de Proteção Ambiental (APA) se ajustaria bem ao conjunto, por estar ele já
muito alterado e por não exigir desapropriações. Situando-se em dois
municípios, a criação da APA caberia ao Estado do Rio de Janeiro, assim como
reflorestamento de nascentes e de margens dos cursos d’água em seu interior ou
que se dirijam a ele, a reativação da linha ferroviária de São
Fidélis-Campos-São Fidélis, melhorias na rodovia RJ-158, com mirantes em
elevações adequadas e outros investimentos mais.
Ficam em
suspenso duas questões: 1- o pedágio a ser cobrado pelo Estado nesse trecho, já
que não seria justo cobrar pedágio de pessoas que se deslocam entre as duas
cidades a trabalho ou por motivos frequentes. Quanto ao trem, sem dúvida, ele
teria suas passagens cobradas. 2- a APA do Baixo Paraíba seria o primeiro passo
para um conjunto maior que incluiria a RJ-216 (Campos-Farol), a BR-356 (no
trecho Campos-São João da Barra), a RJ-196 (seção São Francisco de Itabapoana)
e o antigo curso da ES-060. O conjunto receberia a denominação de “Caminhos de
Wied-Neuwied” por ter o príncipe naturalista transitado por caminhos
substituídos pelas estradas mencionadas, mas bem próximas às trilhas seguidas
pelo nobre alemão. Esse conjunto também faria parte do Geoparque Costões e
Lagunas do Rio de Janeiro.
Fonte:Arthur Soffiati
Historiador com doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, colaborador
com a imprensa e autor de 26 livros.
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