Comercialização e propaganda desses dispositivos são proibidas pela Anvisa
Diversas
pesquisas mostram os malefícios do consumo de cigarro para a saúde. Responsável
por mais de 7 milhões de mortes anuais em todo o mundo, o produto há muito
tempo deixou de ser símbolo de poder, status e liberdade. A meta da Organização
Mundial da Saúde (OMS) é que, ano após ano, o consumo seja reduzido.
Nos últimos
anos, porém, surgiram os cigarros eletrônicos. Com uma aparência moderna e com
gostos disfarçados por uma infinidade de sabores e aromas, eles passam a ideia
de serem inofensivos à saúde. Basta acessar as redes sociais para ver homens e
mulheres jovens consumindo os vaporizadores — vapes, cuja “fumaça” é facilmente
identificada nas rodas de amigos em bares, restaurantes ou até na praia.
O que muitos
não sabem, ou ignoram, é que, apesar de parecerem uma boa alternativa e serem
socialmente aceitos, os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) são tão
danosos quanto o cigarro convencional.
Os cigarros
eletrônicos tiveram a comercialização e a propaganda proibidas pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), decisão baseada no princípio da
precaução, devido à inexistência de dados científicos que comprovem que os
produtos são realmente inofensivos. Um claro exemplo dos riscos à saúde, no
entanto, é o chamado ‘vidro fosco’ no pulmão, assunto amplamente debatido após
o diagnóstico do cantor sertanejo Zé Neto.
Às vésperas
do Natal, a assessoria de imprensa do cantor, que faz dupla com Cristiano,
informou que ele desenvolveu um problema denominado ‘foco de vidro no pulmão’,
que provoca falta de ar. Esses sintomas tanto podem estar relacionados a
resquícios da Covid-19, que ele contraiu, quanto ao uso prolongado que fazia de
cigarro eletrônico.
“Nesse caso,
uma parte dos alvéolos, em vez de estar preenchida por ar, se apresenta
carregada de uma substância inflamatória”, explica a cardiologista Stephanie
Risk. “Esse quadro pode ser causado por infecções virais como a Covid-19,
fibrose, fungos, e por inflamação provocada pelo uso de cigarro eletrônico”.
Segundo ela,
“há uma falsa impressão de que o cigarro eletrônico não faz mal, mas a maioria
contém nicotina, que é altamente viciante”. A médica afirma que, apesar de ter
menos substâncias tóxicas que o cigarro comum, ele não é isento desses
compostos.
“É
importante lembrar que descobrimos os malefícios do cigarro convencional, de 20
a 30 anos depois de ele estar sendo consumido. Enquanto isso, os cigarros
eletrônicos, embora tenham surgido recentemente, já foram descritos problemas
pulmonares provocados por eles”, completa.
O principal
causador desses problemas é o vapor, que por ser muito quente e chegar ao
pulmão misturado a algum tipo de óleo usado no equipamento, pode causar lesões
e inflamações pulmonares. Risk ainda lembra que, mesmo que alguns fumantes usem
o eletrônico como alternativa ao tradicional, esse tipo de cigarro contém
nicotina e, portanto, não combate o vício em tabaco. “Por ser considerado mais
aceitável, muitas vezes até faz a pessoa fumar com mais frequência.”
Os danos
à pele e ao cabelo
Porém, não é
só o sistema respiratório que é prejudicado com a utilização de tais
dispositivos. A cientista e expert em saúde do couro cabeludo, Jackeline
Alecrim, explica que os vapes podem ainda gerar queda dos cabelos e agravar
quadros de calvície.
“Estudos
demonstram que fumar (seja o vape ou o cigarro convencional) contribui
diretamente para a diminuição acentuada dos fios. Isto se deve ao fato de, ao
longo dos anos, as substâncias tóxicas presentes no cigarro, como a nicotina,
provocarem a degeneração gradativa dos folículos pilosos prejudicando o aporte
sanguíneo local e a oxigenação tecidual do couro cabeludo”.
De acordo
com ela, o agravante dos eletrônicos é a dificuldade de especificar quais
concentrações emitidas das substâncias maléficas que eles contêm, ao contrário
do cigarro comum que é obrigado por lei a apontar tais concentrações.
“No cigarro
estão presentes mais de quatro mil substâncias prejudiciais à nossa saúde, com
o potencial de afetar negativamente a pele e o cabelo”, enfatiza, acrescentando
que a nicotina se acumula nas paredes dos vasos, “prejudicando a circulação
sanguínea e impedindo que os nutrientes, hormônios e o oxigênio cheguem até os
folículos pilosos como a raiz e o cabelo”.
O que é importante saber sobre o e-cigarro
(Por Mauro
Gomes*)
Cigarros
eletrônicos são dispositivos criados com o objetivo de simular a sensação de
fumar um cigarro comum. Também conhecido como e-cigarro, contém nicotina, mas
não alcatrão e monóxido de carbono presentes nos cigarros tradicionais —
substâncias capazes de causar câncer de pulmão e de outros órgãos — mas libera
outros tipos de substâncias tóxicas à saúde.
Do que é
composto o cigarro eletrônico?
Nele, a
nicotina é diluída em uma substância, habitualmente o propilenoglicol. Essa
mistura costuma ser comprada em refis e armazenada em um reservatório
(cartucho) no dispositivo, ligado a um vaporizador que transforma o líquido em
fumaça. A concentração de nicotina nos reservatórios do e-cigarro costuma ser
bem maior que aquela encontrada nos cigarros convencionais.
É isento de
riscos à saúde?
Não. Embora
o propilenoglicol seja uma substância segura para a saúde humana, quando serve
de diluente para a nicotina e é vaporizada e inalada libera o formaldeído em
concentrações de 5 a 15 vezes maiores do que encontradas nos cigarros comuns,
um agente capaz de provocar o câncer.
Quais
doenças pode causar?
No curto
prazo, o e-cigarro pode ser danoso ao sistema respiratório e cardiovascular.
Por ser um produto relativamente novo da indústria do tabaco, desconhece-se ainda
todos os males que ele pode causar em longo prazo. Sabe-se que a composição do
vapor contém substâncias derivadas de metais pesados, como ferro, alumínio e
níquel, que podem levar não só ao câncer de pulmão, mas também ao dos seios da
face, enfisema pulmonar e à fibrose pulmonar.
Pode ser
usado para ajudar a parar de fumar?
Não deve ser
utilizados em programas de combate ao tabagismo no lugar da terapia de
reposição da nicotina devido às impurezas e às altas concentrações presentes de
formaldeído, substância altamente cancerígena. Como o e-cigarro utiliza a
nicotina, que é a substância presente no cigarro que causa a dependência, na
verdade o fumante está trocando um vício pelo outro.
Quais os
riscos para os jovens?
Os
adolescentes são mais propensos do que os não usuários a fumar cigarros
convencionais de acordo com estudos científicos nos EUA. Os pesquisadores
concluíram que o uso de e-cigarro agrava, em vez de amenizar, o uso de cigarros
convencionais, portanto, representam um engodo à população, uma forma de atrair
os jovens para a dependência química e, numa etapa posterior, tornarem-se
consumidores de cigarros comuns.
*Mauro Gomes
é médico pneumologista
FONTE:A VOZ DA SERRA
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